
É como se fizesse tudo ficar mais fácil, ou talvez só menos difícil. Tento dar menos importância e sentir um bocadinho menos. Prometo a mim mesma que amanhã muda tudo. Aliás, prometo que hoje tudo vai mudar. Mas não agora. Neste momento, não posso. Afinal, preciso de tempo, não é? Toda a gente precisa de tempo. Ensaio qualquer coisa que se pareça com uma despedida, só para ter a certeza de que não vou voltar nunca mais.
E passam dias, semanas e até meses, e eu continuo aqui. A inventar desculpas, despedidas, fórmulas mágicas de tornar tudo mais fácil e menos doloroso. Não vai doer menos por isso. Aliás, não dói menos por isso. Mas parece que vai ficando tudo escondido, vou-me esquecendo, dou menos importância e quase deixo de sentir. Na verdade, é só uma máscara atrás da qual eu me sinto terrivelmente confortável e, incrivelmente, segura. Ninguém me vê e eu só vejo o que quero.
Só há um problema: o momento em que a máscara cai. É como uma tempestade. Pouca coisa fica por destruir e os dias seguintes são esmagadores. Depois, segue-se a árdua tarefa de reparar tudo, mais uma vez, de colar as partes que sobraram, de levantar a cabeça e continuar. Mesmo que os dias pareçam intermináveis, que tudo pareça em vão e que a única opção pareça ser desistir. Mesmo que doa, mais do que tudo. É preciso seguir em frente, sempre.
Mesmo que seja preciso começar de novo, do zero e construir tudo outra vez. E, se for preciso chorar, todos os dias, até não sentir mais nada, então vou chorar. Vou desfazer-me de tudo o que conseguir, para recomeçar do ponto em que parámos.