
Desperto com o aroma de café a entrar pelo quarto. E a primeira memória, que me atravessa a mente, é o aconchego que sentia quando estava contigo. Lembro-me da minha infância, da sensação de alegria que sentia de cada vez que ia a tua casa. A casa da minha avó.
Cresci sem saber muito bem porque gostava de ti. Cresci sem entender o papel que tinhas na minha vida. Cresci a apreciar o teu modo de viver. Cresci a saber que eras apenas tu, assim apenas e só! Trato fácil, sorriso e gargalhada tão genuínos que dava gosto só de ver.
Ainda hoje, sinto aquele cheiro que só tu conseguias fazer sair da cafeteira. É daqueles encantos naturais que não entendemos e nem conseguimos explicar. Com o passar dos anos, sentes. Apenas sentes.
O triste é que tudo acaba. Tudo o que é bom acaba. O eterno cliché de «a vida é mesmo assim». Não, não é! Não pode ser. Recuso-me a aceitar que esse mesmo cliché possa magoar dessa forma tão cruel.
Sempre te vi como o meu anjo da guarda. Só que os anjos da guarda também têm Alzheimer.
Nem tu te apercebes do que te está a acontecer. Nem tu te apercebes do que se está a passar à tua volta. Nem tu notas nas lágrimas que deitas a sorrir. Mesmo assim, esse sorriso contagia. Mesmo não sabendo quem eu sou, sorris.
É para mim que sorris. É para mim que os teus olhos brilham. E eu não vou esquecer. Mesmo que me esqueças, eu não esqueço. Mesmo que não te lembres de mim, eu vou gostar sempre de ti…
Da minha avó.